sábado, 14 de maio de 2011

Um velho despertar

Ela acordou em mais um dia comum, com uma cara comum, um cabelo comum de um jeito comum. Mas uma névoa de mentira pairava sobre sua cabeça, e ela não sabia bem de ontem vinha tudo isso.
- Nossa, mãe, não acordei muito bem. Mãe?
Parecia o gosto desconhecido e assustadoramente peculiar de uma solidão inédita, ela, afinal, nunca havia estado completamente só. Talvez apenas meio só, de um jeito que sempre haveria o colo de alguém para procurar.
- Mãe?
E mais silêncio.
Talvez fosse melhor permanecer em casa, uma hora tudo haveria de voltar ao normal. Mas não era sua casa, não era seu lugar. Não era sua vida, não era o que ela havia vivido até ali. nada estava igual, tudo mudara repentinamente, sem sua permissão, ou sem que ao menos ela pudesse esperar. Ela estava vazia. E vivia o vazio de dentro para fora, externando tudo o que lhe havia de nada, preenchendo tudo com absolutamente nada. Só.
- Mãe?
Então ela decidiu que era hora de enfrentar, e, de finalmente, abrir os olhos. Mas veja, o vazio nem é tão inédito assim, só havia sido ausente por alguns anos. Alguns anos de preenchimento completo, e ela só estava mal-acostumada.
- Filha? Acordou?
- Oi, mãe. Que bom que está aí.
- Está tudo bem?
- Sim, apenas estou sozinha. De novo.
E, de uma hora para outra, viu-se completamente só outra vez. Achou que fosse inédito, mas, na verdade, só havia esquecido como era. Felizmente, junto a tudo se lembrou que sobreviveu, e que, por fim, às vezes se bastava a si mesma.
- Só achei que já tivesse visto isso antes, mãe.
Nem tudo é verdade, mas também não se torna mentira só porque não se conhece.
Continuou...