quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O sonho de Sophia

Sophia dorme sempre que se sente triste. Ela sente que se fecha os olhos e entra no mundo irresponsável, inconsequente e transcendental dos sonhos, os problemas reais se enfraquecem. Por um momento, até é verdade.

Sophia sentiu sua confiança esvair-se pelos vãos dos dedos, sentiu sua caixinha de música parar, percebeu que a bailarina que rodava, dançava e brilhava, já não brilhava mais. O brilho havia se apagado. Então Sophia dormiu.

Ela dormiu e sonhou com um lugar de céu púrpura, onde tudo era verdade, até o que não poderia ser. As nuvens eram de algodão, um coelho trazia ovos de chocolate, um bom velhinho lhe dava presentes no Natal e ninguém era mau. Absolutamente ninguém. Sophia sonhou com aquilo que acreditava, ela dormiu profundamente.

No sonho, Sophia tinha amigos que eram o que eram e pronto. A face de ninguém era capaz de alterar a verdadeira essência da pessoa. As pessoas, no mundo de Sophia, não interpretavam. Não existia mentira nem de mentirinha. Sophia era feliz, muito feliz.

Os dias eram quase sempre de sol, só chovia quando Sophia queria tomar banho de chuva. As pessoas não choravam, não existia tristeza. Sophia havia construído um castelo onde ela era uma princesa, num mundo onde todas eram princesas. E todos eram príncipes também.

O que Sophia não sabia é que, mesmo no sonho dela, onde há princesas há bruxas. E as bruxas resolveram sair para passear. Tudo mudou, desde este dia. Havia bruxas no sonho de Sophia. Ela estava sonhando com a própria realidade. Nada poderia ser tão perfeito assim. Mas Sophia não sabia, nem sabia também que dentro dela mesma estivesse toda a angústia do que vivia fora de seu sonho.

O sonho começou a se desfazer, como um algodão doce dentro da boca, que de repente ficou salgado. Num dado momento do sonho de Sophia, o céu caiu, os rios secaram, as nuvens sumiram e as máscaras caíram. Era tudo mentira. Uma bela mentira bem contada de Sophia para ela mesma.

E Sophia acordou.